A Velha Guarda, da Netflix, tem tudo que a gente gosta!

Eu sei que normalmente eu venho aqui escrever aqueles textos enooormes e didáticos, mas hoje não vai ter nada disso. Vai ter só eu enchendo o saco pra vocês assistirem The Old Guard (A Velha Guarda), mesmo. Dez dias atrás eu pensei que não fosse conseguir falar de outra coisa esse ano além da série Watchmen da HBO, mas aí A Velha Guarda estreou na Netflix… e virou minha nova obsessão. Sério! O filme tem tudo que a gente gosta: explosões, representatividade, espadas, mulheres como protagonistas, cenas de luta de tirar o fôlego, personagens gays (que não morrem, porque são eles imortais) e a Charlize Theron descendo a porrada em todo mundo. Aliás, Charlize Theron descendo a porrada nas pessoas deveria ser um gênero próprio do cinema, e a Netflix devia ter uma categoria inteira com esse nome para a gente maratonar, né?

Os personagens centrais em The Old Guard, o novo filme de ação da plataforma (Netflix)

A Velha Guarda é uma trama de ação sensacional – e a trilha sonora é uma delícia – mas a melhor coisa do filme é, sem dúvida nenhuma, os seus personagens. Mais uma vez, eu não quero falar muito pra não dar spoilers, porque é o tipo de filme que a gente merece assistir e se surpreender com tudo, sabe? Por enquanto eu posso dizer que a história é inspirada numa HQ com o mesmo nome que ainda não foi lançada no Brasil (mas vocês já podem ler os primeiros volumes aqui), e acompanha um grupo de imortais que tenta ajudar a humanidade da forma como eles podem.

Os quadrinhos foram escritos pelo Greg Rucka (de Lazarus e Mulher Maravilha, aquele que disse que a Diana é definitivamente queer), com as ilustrações do artista argentino Leandro Fernandez. Já o filme foi dirigido pela Gina Prince-Bythewood, uma mulher negra, e isso faz TODA a diferença na produção. Por exemplo, é maravilhoso ver que as duas protagonistas são mulheres – Andy e Nile – mas além disso elas são personagens completas e não-sexualizadas pelo olhar masculino. A própria diretora tem chamado atenção para o fato de que heroínas como a Nile, interpretada pela Kiki Layne, são uma raridade no cinema hollywoodiano. A Velha Guarda é um chute certeiro no machismo tão comum em filmes de ação, e deixa muito claro que a gente precisa de mais mulheres no gênero (tanto atrás das câmeras, quanto em cena). E só pra deixar vocês na vontade, vou avisar que o próximo projeto da Gina é The Woman King, um épico sobre guerreiras africanas com ninguém menos que Viola Davis e Lupita Nyong’o no elenco.

Charlize Theron como Andy e Kiki Layne como Nile Freeman, as duas protagonistas (Netflix)

Como se não bastasse, a gente ainda tem um casal gay maravilhoso no filme! Tenho que me controlar muito para dar não spoliers, porque eu me apaixonei completamente pelo Joe e o Nicky em A Velha Guarda. O relacionamento dos dois é tão lindo, tão poderoso, e ao mesmo tempo eles tem uma dinâmica tão divertida! Não tem como não morrer de amores por eles. E vocês lembram o que eu disse lá em cima, não é? Eles são imortais! É LITERALMENTE o oposto daquele clichê horrível em que os personagens gays sempre morrem no final. Os dois são apaixonados há quase mil anos, não podem morrer, e ainda matam homofóbicos babacas com as próprias mãos. Não sei quanto a vocês, mas é tudo o que eu queria ver em um bom filme de ação.

Vou ter que parar o texto por aqui porque se eu começar a falar sobre o Joe e o Nicky, eu nunca mais vou calar a boca (como meus amigos perceberam nas últimas quarenta e oito horas), mas eu juro, é a representatividade que a gente merece. Não é a toa que A Velha Guarda está aí batendo recordes e já se tornou um dos filmes mais populares na história da Netflix, mesmo tendo estreado no catálogo há menos de duas semanas. Na real, o único defeito desse filme é não ser uma série, porque eu queria pelo menos uma temporada inteira com vinte episódios de uma hora. Como isso não vai rolar, eu fico só aguardando o próximo filme da saga (ei, Netflix, por que não fazer uma trilogia?).

 Os atores Marwan Kenzari como Joe e Luca Marinelli como Nicky em A Velha Guarda (Fonte)

Então eu repito: faça um favor para você mesmo hoje, e vá assistir A Velha Guarda! E depois venham falar comigo sobre a história, porque eu ainda não superei esse filme, nem vou superar tão cedo.


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Noelle Stevenson, de “She-Ra”, fala sobre representação LGBT

A nova temporada de She-Ra e as princesas do poder chegou na Netflix essa semana, e eu ainda não tive de tempo de assistir, embora já tenha ouvido boas coisas a respeito! A série incluiu um casal formado por dois homens, ambos negros, no seu elencoLance e George, os pais do Arqueiro. Uma notícia maravilhosa, mas não é sobre isso que eu vou falar hoje. Ou, pelo menos, não apenas sobre isso.

lance and george

Lance e George, os pais do Arqueiro (no original, Bow) em She-Ra (Netflix)

Para quem não viu, ontem rolou um Answer Time no Tumblr com a criadora e roteirista da série, Noelle Stevenson, e com o elenco principal. A equipe respondeu perguntas da rede, ao vivo. Vocês podem conferir os vídeos aqui e aqui. Entre outras coisas, a Noelle falou sobre representatividade, sobre a importância de ter mais personagens LGBT na mídia, inclusive em produções voltadas para o público infantil e jovem. Como os vídeos da entrevista estão todos em inglês, eu resolvi traduzir algumas falas dela para vocês. É fundamental que esse tipo de conteúdo seja acessível pra quem fala outras línguas, não é mesmo? Uma coisa legal que o Tumblr fez foi disponibilizar os vídeos com legendas, o que além de promover acessibilidade, facilita a vida de quem não fala o inglês nativo. Só teria sido mais legal se eles tivessem a opção de legenda em outras línguas.

Os pontos que Stevenson levantou acrescentam muito a outras discussões que a gente já teve aqui no blog, como o estereótipo do vilão gay e a identificação do público LGBT com esses personagens, mesmo na infância. É interessante notar que em She-Ra vários personagens podem ser vistos como queer, inclusive os protagonistas – e não apenas os vilões, como é comum nas produções voltadas ao público infantil.

Lembrando que a própria Noelle é uma escritora queer, e fala com propriedade sobre as questões de gênero e sexualidade. As suas histórias sempre tem uma pegada feminista, também. Antes de She-Ra e as princesas do poder, ela já era bastante conhecida pelos quadrinhos Nimona e Lumberjanes. E eu admito que ainda não li, mas esses dois títulos estão na minha lista porque parecem incríveis. Fica a dica de leitura para vocês!

Agora, que tal a gente conferir algumas das perguntas e respostas de ontem?

Pergunta (por galaxy-houseplants): O que faz com que a representatividade LGBT na programação infantil seja tão importante para você, e como você acha que isso pode ajudar as futuras gerações a aceitarem melhor a diversidade?

Noelle: Eu acredito que, como uma criança queer, quando você se vê representado nas coisas que você assiste, você tem uma ideia de como a sua vida poderia ser, que tipo de pessoa você poderia ser, os amigos que você poderia ter no futuro. É a capacidade de se ver no exemplo e perceber, “olha, existem todas essas formas de ser”. Sabe, isso pode ser você. Podem ser as pessoas que você conhece. É muito importante, porque eu acho que todo mundo que passou por essa jornada de descoberta, já teve algum momento na vida em que se viu atraído para algum personagem na TV, em um desenho, um livro ou um quadrinho, e pensou “eu acho que isso sou eu. Eu acho que eu me vejo aqui”.

“Como uma criança queer, quando você se vê representado nas coisas que você assiste, você tem uma ideia de como a sua vida poderia ser.”

Noelle Stevenson

 

A oportunidade de criar algo como She-Ra para mostrar essa diversidade de aparência, e atração, e expressão de gênero, todas essas coisas. É algo muito, muito poderoso. E é uma verdadeira honra poder fazer isso na série.

Pergunta (por cinnameep): Você já pensou em abordar a questão de gênero e a não- conformidade de gênero na série, especialmente em relação ao uso dos pronomes?

Noelle Stevenson: Nós definitivamente temos alguns personagens vindo aí que podem te interessar! Você deveria continuar assistindo para descobrir.

Pergunta (por mailboxspiders): She-Ra tem algum conselho para garotas que querem se tornar líderes mundiais?

Noelle Stevenson: Nossa, a coisa ficou séria! Eu acho que só, acredite em você mesma, e continue fazendo perguntas assim.

She Ra answer time

A edição de 30 de abril do Answer Time, com a participação do elenco principal de She-Ra e as princesas do poder e a criadora da série, a escritora e quadrinista Noelle Stevenson (Tumblr)

O elenco também falou sobre os poderes mais legais dos personagens, e casais que eles gostariam de ver na série, como Glimmer e Scorpia (…Glorpia?). Eles ainda deram dicas de que vai ter um episódio musical! Sério, eu mal posso esperar – vocês sabem que eu adoro musicais. E aposto que vai ser coisa do Falcão do Mar, a gente já viu ele cantando antes (não por acaso, ele é o meu personagem favorito da série).

Quem tiver interesse e puder entender entender o inglês, eu recomendo que assista os outros vídeos do Answer Time! Eles são todos curtinhos e divertidos, o elenco tem um entrosamento muito bacana, e é legal conhecer as pessoas que emprestam sua voz aos personagens de She-Ra e as princesas do poder. Mais um motivo para gostar da série.


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DESAFIO DE LEITURA 2019

Começando o ano com tudo, eu quero propor a vocês um desafio de leitura para 2019! Funciona mais ou menos como bingo: eu fiz essa tabelinha e, conforme você for lendo, vai marcando as casas. A meta é fechar a cartela até o final do ano! São só doze espaços então dá pra ler com bastante calma, um por mês (ou procrastinar até outubro e tentar ler tudo de uma vez nos últimos três meses do ano, se gosta de viver perigosamente). E aí, topam ou não topam?

A ideia é justamente ampliar os nossos horizontes literários, por isso eu fiz questão de incluir propostas que vão além dos livros de ficção. Tem uma ou outra tarefa para vocês cumprirem também, e dá pra usar como um desafio pessoal ou jogar com os amigos.

Quem quiser jogar no modo difícil, pode colocar a regra de que cada livro só vale por um espaço. Por exemplo, mesmo que Orgulho e preconceito seja um clássico escrito por uma autora mulher, você não pode marcar os dois quadrinhos – tem que escolher um só. Já quem quiser jogar no modo menos difícil, pode deixar cada livro contar por dois ou mais quadros, se ele encaixar na descrição. Confiram a nossa cartela:

desafio de leitura 2019

Desafio de Leitura 2019 (Blog Esteante)

 

Vamos lá, fiquem ligados nas categorias!

AUTORA MULHER: simples, um livro escrito por uma mulher. Para facilitar, que tal consultar a lista de mulheres pra ler em 2018?

SPIN-OFF: o spin-off é uma obra derivada de outra, como Animais Fantásticos é derivado Harry Potter. Eu sugiro O siciliano, um spin-off de O poderoso chefão, mas a dica de ouro é: procurem spin-offs de séries que vocês adoram.

CLÁSSICO: sabe aquele clássico que você sempre teve vontade, e nunca chegou a ler? Hora de riscar ele da sua lista! Se quiserem uma sugestão pessoal, indico A assombração da casa da colina, um clássico do terror.

EMPRESTADO: pegue um livro emprestado com alguém! Para tornar nosso jogo mais divertido, simplesmente peça a um amigo para te emprestar um livro. Deixe que ele escolha por você (na minha lista está A invenção de Hugo Cabret).

BIOGRAFIA: muito simples também, basta escolher uma biografia. Recomendo dois que eu estou com vontade de ler, Mason e Frida: A biografia.

HISTÓRIA EM QUADRINHOS: aqui vale revista em quadrinhos,graphic novel, mangá… Você decide! Mesmo que você nunca tenha lido uma HQ, vale pela a experiência. Que tal algo do Gavião Arqueiro ou do Deadpool?

LIVRO-REPORTAGEM: um livro-reportagem, como o Holocausto Brasileiro que eu já mostrei pra vocês. E aqui tem mais sugestões!

FAVORITO DE ALGUÉM: ler o livro favorito de alguém é uma ótima forma de conhecer melhor aquela pessoa. Minha dica é: pergunte a alguém com quem você não costuma conversar sobre literatura qual é o livro preferido dele. Ou então aos seus pais, a algum colega de trabalho, ao porteiro do prédio… Talvez uma pessoa que você acabou de conhecer. Para quem quiser ler o meu, é O retrato de Dorian Gray do Oscar Wilde.

POESIA: outra proposta muito simples, e vale especialmente para quem não curte muito poesia. Dê essa chance a um livro! Um que eu recomendo demais é o Outros jeitos de usar a boca, da Rupi Kaur.

LANÇAMENTO: um livro novo, lançado em 2019! Não vou colocar o nome de nenhum aqui, mas nós podemos ficar de olho nos lançamentos que saírem ao longo desse ano e escolher um (ou vários).

ANTOLOGIA: uma antologia é uma coleção de histórias. Ou seja, pode ser um livro de contos, crônicas, cartas… Eu sugiro Morangos mofados do Caio Fernando Abreu, ou As coisas que perdemos no fogo, da argentina Mariana Enriquez.

PEÇA DE TEATRO: um livro que seja escrito como uma peça teatral, ou um script ainda não publicado. Vou indicar As três moças do sabonete, do Hebert Daniel.

 

Vai ser um desafio para mim também. Eu ainda não decidi quais títulos vou colocar na minha lista de leitura, então aceito sugestões! Ao longo do ano eu conto para vocês o que eu estou lendo e quais quadrinhos já consegui marcar, e espero que em dezembro eu esteja com a minha cartela fechada.

Quem topar fazer o desafio me avise, eu vou adorar acompanhar o progresso de vocês.


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