A Velha Guarda, da Netflix, tem tudo que a gente gosta!

Eu sei que normalmente eu venho aqui escrever aqueles textos enooormes e didáticos, mas hoje não vai ter nada disso. Vai ter só eu enchendo o saco pra vocês assistirem The Old Guard (A Velha Guarda), mesmo. Dez dias atrás eu pensei que não fosse conseguir falar de outra coisa esse ano além da série Watchmen da HBO, mas aí A Velha Guarda estreou na Netflix… e virou minha nova obsessão. Sério! O filme tem tudo que a gente gosta: explosões, representatividade, espadas, mulheres como protagonistas, cenas de luta de tirar o fôlego, personagens gays (que não morrem, porque são eles imortais) e a Charlize Theron descendo a porrada em todo mundo. Aliás, Charlize Theron descendo a porrada nas pessoas deveria ser um gênero próprio do cinema, e a Netflix devia ter uma categoria inteira com esse nome para a gente maratonar, né?

Os personagens centrais em The Old Guard, o novo filme de ação da plataforma (Netflix)

A Velha Guarda é uma trama de ação sensacional – e a trilha sonora é uma delícia – mas a melhor coisa do filme é, sem dúvida nenhuma, os seus personagens. Mais uma vez, eu não quero falar muito pra não dar spoilers, porque é o tipo de filme que a gente merece assistir e se surpreender com tudo, sabe? Por enquanto eu posso dizer que a história é inspirada numa HQ com o mesmo nome que ainda não foi lançada no Brasil (mas vocês já podem ler os primeiros volumes aqui), e acompanha um grupo de imortais que tenta ajudar a humanidade da forma como eles podem.

Os quadrinhos foram escritos pelo Greg Rucka (de Lazarus e Mulher Maravilha, aquele que disse que a Diana é definitivamente queer), com as ilustrações do artista argentino Leandro Fernandez. Já o filme foi dirigido pela Gina Prince-Bythewood, uma mulher negra, e isso faz TODA a diferença na produção. Por exemplo, é maravilhoso ver que as duas protagonistas são mulheres – Andy e Nile – mas além disso elas são personagens completas e não-sexualizadas pelo olhar masculino. A própria diretora tem chamado atenção para o fato de que heroínas como a Nile, interpretada pela Kiki Layne, são uma raridade no cinema hollywoodiano. A Velha Guarda é um chute certeiro no machismo tão comum em filmes de ação, e deixa muito claro que a gente precisa de mais mulheres no gênero (tanto atrás das câmeras, quanto em cena). E só pra deixar vocês na vontade, vou avisar que o próximo projeto da Gina é The Woman King, um épico sobre guerreiras africanas com ninguém menos que Viola Davis e Lupita Nyong’o no elenco.

Charlize Theron como Andy e Kiki Layne como Nile Freeman, as duas protagonistas (Netflix)

Como se não bastasse, a gente ainda tem um casal gay maravilhoso no filme! Tenho que me controlar muito para dar não spoliers, porque eu me apaixonei completamente pelo Joe e o Nicky em A Velha Guarda. O relacionamento dos dois é tão lindo, tão poderoso, e ao mesmo tempo eles tem uma dinâmica tão divertida! Não tem como não morrer de amores por eles. E vocês lembram o que eu disse lá em cima, não é? Eles são imortais! É LITERALMENTE o oposto daquele clichê horrível em que os personagens gays sempre morrem no final. Os dois são apaixonados há quase mil anos, não podem morrer, e ainda matam homofóbicos babacas com as próprias mãos. Não sei quanto a vocês, mas é tudo o que eu queria ver em um bom filme de ação.

Vou ter que parar o texto por aqui porque se eu começar a falar sobre o Joe e o Nicky, eu nunca mais vou calar a boca (como meus amigos perceberam nas últimas quarenta e oito horas), mas eu juro, é a representatividade que a gente merece. Não é a toa que A Velha Guarda está aí batendo recordes e já se tornou um dos filmes mais populares na história da Netflix, mesmo tendo estreado no catálogo há menos de duas semanas. Na real, o único defeito desse filme é não ser uma série, porque eu queria pelo menos uma temporada inteira com vinte episódios de uma hora. Como isso não vai rolar, eu fico só aguardando o próximo filme da saga (ei, Netflix, por que não fazer uma trilogia?).

 Os atores Marwan Kenzari como Joe e Luca Marinelli como Nicky em A Velha Guarda (Fonte)

Então eu repito: faça um favor para você mesmo hoje, e vá assistir A Velha Guarda! E depois venham falar comigo sobre a história, porque eu ainda não superei esse filme, nem vou superar tão cedo.


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Tudo que você precisa saber pra entender Watchmen da HBO

Não é que eu finalmente comecei a ver Watchmen, a minissérie da HBO? É algo que eu já queria assistir faz tempo, porque a HQ é um dos meus quadrinhos preferidos e – me julguem! – eu ADORO o filme de 2009. Aliás, o filme foi dirigido pelo Zack Snyder. Aí a galera fica falando que quer ver o “Snyder cut” de Liga da Justiça, mas na boa? Eu quero mesmo é a versão estendida de Watchmen. Bem, voltando à série da HBO, com mesmo nome… Caramba. A produção é fantástica. Sei que nem todo mundo curte esse tema de super-heróis, mas se você gosta ou tem curiosidade de ver uma série que traz questões políticas para esse universo da cultura pop, vale a pena conferir.

A série não é uma adaptação dos quadrinhos, e nem uma releitura da história. Pelo contrário, ela se passa no mesmo universo da HQ – e, consequentemente, do filme de 2009 – só que uns 30 anos depois, já nos dias atuais. O legal é que eles incorporaram bastante coisa da trama original, tanto em relação aos antigos personagens quanto à própria ambientação, e mesmo assim conseguiram expandir a história de uma maneira formidável. Fora que, além dos temas trabalhados nos quadrinhos (como machismo e homofobia), a série da HBO traz uma discussão contunde e bastante necessária – hoje mais do que nunca – sobre o racismo.

Lembrando que ela foi feita para ser uma minissérie, então provavelmente não haverá uma segunda temporada. Vou continuar torcendo para eles mudarem de ideia quanto a isso, mas a primeira temporada funciona muito bem como uma narrativa completa. Eu vou deixar o trailer aqui para vocês assistirem!

Espelho e Irmã Noite, os heróis mascarados da série, trabalham junto com os policiais (Fonte)

Como eu tenho um milhão de coisas para falar sobre Watchmen, vou dividir tudo em dois artigos. Hoje eu vou comentar a premissa da franquia e introduzir esse cenário da trama atual, da HBO. Assim, quem ainda não leu a HQ vai saber por onde começar, e se quiser apenas ver a série, também não vai ficar tão perdido. A ideia é fazer um resumão com tudo o que vocês precisam saber para assistir a minissérie, certo? O que significa que esse post aqui não vai ter grandes spoilers. Já no próximo texto eu vou falar sobre como eles atualizaram os personagens antigos, trazendo todo o conceito e a discussão em torno deles para um debate contemporâneo, especialmente o trabalho maravilhoso que foi feito com o Justiça Encapuzada. Vamos nessa? Senta que lá vem textão.

Sobre os quadrinhos

Watchmen é uma graphic novel – ou romance gráfico, em português – escrita pelo Alan Moore e ilustrada pelo Dave Gibbons, publicada pela primeira vez entre 1986 e 1987. A Panini lançou aqui no Brasil uma versão inteira, compilada em uma edição capa dura, mas vocês encontram fácil para ler online (aqui e aqui). Depois, em 2012, a DC Comics lançou uma nova saga, Antes de Watchmen, que aprofunda a história dos personagens e traz eventos antecedentes à trama principal. Ao todo, são oito edições com escritores e ilustradores distintos, incluindo o Azzarello, Lee Bermejo, Len Wein e Darwyn Cooke. Cada número saiu com três capas diferentes, mas o interior das revistas é o mesmo. Ah, agora em 2019 a Panini republicou a série, dessa vez dividida em “edições de luxo” que juntam dois títulos (como essa aqui, do Comediante e do Rorschach). Eu adoro Antes de Watchmen, tenho a coleção completa do primeiro lançamento, mas vocês não precisam comprar pra ler. Também é muito fácil encontrar online (aqui e aqui).

Quem se interessar, o ideal é começar por Watchmen, a edição principal, depois pegar a saga Antes de Watchmen. Existe também uma série nova nos quadrinhos, com o título Doomsday Clock (O Relógio do Juízo Final), que se passa no mundo de Watchmen e inclui outros personagens da DC, como o Super-homem, o Coringa e o Batman. Essa história seguiu uma narrativa bem diferente da produção feita pela HBO, então não vou falar dela, mas se vocês quiserem podem ver mais a respeito aqui.

Conheça os heróis desse universo

Nos quadrinhos, nós somos apresentados a dois grupos de heróis. A primeira geração – uma espécie de “velha guarda” – que são os Minutemen; e o grupo principal, conhecido como Crimebusters. O título Watchmen pode ser traduzido como vigilantes, e se refere à figura do justiceiro mascarado que julga proteger a sociedade com as próprias mãos. É daí que vem aquele já famoso slogan da saga, “quem vigia os vigilantes?” (no original, who watches the watchmen?). Os Minutemen surgiram em 1939, e permaneceram ativos durante toda a década de quarenta. Em 1949, em meio a uma série de controvérsias, a equipe acabou. Os Crimebusters foram fundados em 1966, por Nelson Gardner, que já tinha feito parte dos Minutemen. A ideia era que eles substituíssem a antiga equipe, e combatessem o crime nos Estados Unidos.

Minutemen

Fundados por Nelson Gardner (Capitão Metropolis) e pela Sally Jupiter (Espectral, ou Silk Spectre), junto com o agente e futuro marido dela, Laurence (que cuidava apenas da imagem e publicidade da equipe). Também faziam parte dos Minutemen: Ursula Zandt (Silhouette), Byron Lewis (Traça), William Brady (Dolar Bill), Hollis Mason (Coruja), Edward Blake (Comediante), e o Justiça Encapuzada, cuja identidade se manteve um mistério por muito tempo. Veja aqui o grupo na minissérie, e logo abaixo no filme.

Minutemen, a primeira equipe de heróis mascarados em Watchmen (Fonte: Warner Bros – Filme de 2009)

Como no Estanteante a gente sempre destaca a diversidade, vou dizer que a Silhouette é lésbica, embora ela seja assassinada em um crime homofóbico. Além disso, o Capitão Metropolis é gay, e o Justiça Encapuzada possivelmente bissexual (ainda que isso fique mais implícito nos quadrinhos, e só seja discutido abertamente na série da HBO).

Se você ler tanto Watchmen quando Antes de Watchmen, vai conhecer melhor todos os integrantes da equipe. No filme, eles são apresentados em uma excelente sequência de abertura. Vou deixar o link para vocês assistirem porque, como fã de quadrinhos, essa sequência é uma das minhas coisas favoritas no cinema (e ao som de Bob Dylan ainda por cima!). Nessa introdução a gente vê primeiro os heróis de Minutemen, a formação do grupo com a icônica foto, e o fim que cada um levou. Sally, por exemplo, escolheu se aposentar, o Traça foi internado em um hospital psiquiátrico, e Dollar Bill foi morto ao tentar impedir um assalto. Porém, o mais legal dessa sequência no filme é que a gente vê muitos fatos históricos, e como eles interagem com os heróis da saga.

Crimebusters (os Watchmen)

Quem assistiu o vídeo que eu deixei ali em cima deve ter notado que, além de contar a história dos Minutemen, a abertura mostra o surgimento dos Crimebusters (atenção: o filme deixou esse nome de lado e chamou a segunda equipe só de Watchmen mesmo). Nós vemos o Rorschach e a segunda Espectral ainda crianças, o Comediante junto com o presidente Kennedy, o Doutor Manhattan presente na chegada do homem à Lua, o Coruja retratado por Andy Warhol, o Ozymandias chegando na famosa boate Studio 54 acompanhado de David Bowie, Mick Jagger e dos integrantes do Village People… E todas essas cenas estabelecem muito bem a caracterização dos personagens, além dos outros detalhes históricos que aparecem na abertura.

Os Crimebusters, ou simplesmente os Watchmen, na verdade foram criados por Nelson Gardner (algo que o filme não mostra). Quase duas décadas depois que os Minutemen encerraram as atividades, o antigo Capitão Metropolis decidiu reunir uma nova equipe de vigilantes para manter o país a salvo. Os heróis mascarados não receberam lá muito bem essa ideia. A maioria deles preferia trabalhar por conta própria, e o grupo já surgiu com tensões internas. Mesmo assim, eles estabeleceram uma parceria, combateram o crime juntos e alguns ficaram até bastante próximos.

Os heróis de Watchmen: o Comediante, Espectral II, Doutor Manhattan, Ozymandias, Coruja II e Rorschach (Fonte)

Além de Gardner e do Comediante (que estiveram juntos nos Minutemen), a equipe era composta pelo Daniel Dreiberg (Coruja II), Walter Joseph Kovacs (Rorschach), Adrian Veidt (Ozymandias), Doutor Manhattan, e a filha de Sally, Laurie Jupiter (Espectral II). O Manhattan é o único deles que tem poderes sobre-humanos. É bom lembrar que, no universo da saga, os vigilantes foram forçados a se aposentar na década de setenta. O senador John Keene aprovou o Ato Keene em 1977, proibindo qualquer “aventura mascarada” ou trabalho de justiceiro. Na série da HBO, seu filho – o também senador Joe Keene Jr. – seguiu os passos do pai na carreira política.

A premissa narrativa de Watchmen

Desde a primeira graphic novel, Watchmen se passa no nosso mundo contemporâneo, mas a existência dos super-heróis alterou o curso da História. É por isso que essa saga está sempre referenciando fatos reais, como guerras e escândalos políticos, embora os detalhes sobre grandes eventos históricos costumem ser bem diferentes da versão que a gente conhece. Na série da HBO, essas distinções parecem ser ainda mais gritantes, talvez justamente porque ela aborde os dias atuais.

Além do cenário político, o universo da franquia difere bastante do nosso também em outras áreas, como a própria tecnologia – que foi revolucionada principalmente com a intervenção do Doutor Manhattan. Graças à sua capacidade de manipular a matéria, o Manhattan pode realizar avanços até então inimagináveis para a realidade da época – como a invenção dos carros elétricos. É por isso que, embora a minissérie Watchmen da HBO se passe em 2019, eles têm tecnologia e ciência muito mais avançadas do que nós temos hoje. Os avanços que o Doutor Manhattan trouxe consigo (incluindo outras invenções e pesquisas conduzidas por ele), possibilitaram ainda que outros cientistas e visionários desenvolvessem suas próprias contribuições para essas áreas. O sucesso de grandes inovadores como Adrian Veidt e a Lady Trieu tem muito a ver, também, com o fato deles existirem no mesmo universo que o Dr. Manhattan.

Uma coisa que eu curti bastante na série é que, apesar de ter mesmo muitos aspectos diferentes em relação à ciência e à tecnologia, a produção mostra um presente ainda reconhecível. Não é bem um cenário futurista, e nem distópico – pelo menos não mais distópico que o nosso quadro atual. Mesmo com o clima pesado da história.

Ah, claro, eu não posso deixar de falar sobre a lula gigante alienígena! Isso é um spoiler para os quadrinhos, mas se você vai assistir a série da HBO precisa saber – ou lembrar, caso você já tenha lido. Ainda na época dos Crimebusters, Adrian Veidt (Ozymandias) começou a bolar um plano digno de super-vilão para salvar o mundo. Com as tensões da Guerra Fria e a ameaça de um holocausto nuclear que poderia devastar o planeta, ele decidiu criar uma ameaça ainda maior, que pudesse unir os dois lados da guerra em prol de um objetivo comum. É claro que esse plano do Ozymandias era extremamente elaborado e envolvia uma série de etapas maquiavélicas, mas eu vou resumir bastante pra vocês. O que ele fez foi fingir uma “invasão alienígena” por supostos seres de outra dimensão, levando os Estados Unidos e a União Soviética a se unirem para proteger a humanidade. Para tanto, ele criou um monstro em laboratório (uma lula gigante), que foi lançado sobre Nova York, causando destruição e pânico no mundo inteiro. E até o Doutor Manhattan conseguiu ser enganado por ele. É daí que vem as lulas pequenas que ainda caem do céu na série da HBO.

Depois que o plano do Ozymandias foi concretizado, Manhattan abandonou a Terra e se refugiou em Marte. Mais tarde, Adrian Veidt acabou desaparecendo.

O Doutor Manhattan na minissérie da HBO, interpretado por Yahya Abdul-Mateen II (Fonte)

Para acompanhar a narrativa, um fato que você não pode esquecer é que, no universo de Watchmen, os Estados Unidos venceram a Guerra do Vietnã. Nos quadrinhos (e no filme de 2009) o então presidente Nixon pediu ao Doutor Manhattan para interferir no conflito, levando à vitória da nação americana em 1975 – ao contrário do que houve na realidade. Fruto de um perigoso experimento de física nuclear que deu terrivelmente errado, o Dr. Manhattan tem poderes comparados aos de um deus. Graças ao sucesso da empreitada militar no Vietnã, Nixon ganhou extrema popularidade após a guerra e, além disso, o escândalo de Watergate nunca chegou a acontecer. Pra quem não lembra, o caso Watergate foi o episódio que levaria à renúncia de Nixon em 1974. A diferença é que, no mundo de Watchmen, os jornalistas que investigaram o caso e conseguiram desmascarar o então presidente republicano (Bob Woodward e Carl Bernstein) foram assassinados pelo Comediante a mando de Nixon. A HQ deixa claro que Edward Blake, o Comediante, sempre trabalhou pro governo dos EUA, fazendo esse tipo de trabalho sujo que garantia a hegemonia de poder no país.

Na série da HBO, a gente descobre que em outubro de 1985 o Vietnã foi incorporado aos EUA em mais uma violenta investida imperialista, tornando-se o 51º estado norte-americano. Além disso, Richard Nixon conseguiu alterar a legislação do país, acabando com o limite ao número de vezes que um político poderia se tornar presidente. Como resultado, o próprio Nixon foi eleito seis vezes, e governou os Estados Unidos por vinte anos, entre 1969 e 1989 (ele faleceu no início do seu último mandato e foi sucedido por Gerald Ford). Na eleição seguinte, Robert Redford derrotou Gerald Ford, assumindo a presidência em 1993. Isso aí, o ATOR Robert Redford, de clássicos como Butch Cassidy, Todos os homens do presidente e Proposta Indecente. Em Watchmen, ele deixou a carreira no cinema para seguir a vida política, com grande sucesso – no início da série ele já está em seu sétimo mandato consecutivo, pelo partido democrata. Ao contrário de Nixon, o governo de Redford preza pelas questões sociais. E uma curiosidade: na minissérie, ele é interpretado por ele mesmo!

Tudo isso é importante porque essa configuração política é o que lança as bases para o conturbado cenário retratado na produção da HBO. O movimento “Liberte o Vietnã” (Free Vietnam, no inglês) que a gente vê em algumas cenas, por exemplo, é um protesto contra o domínio dos Estados Unidos sobre o antigo país asiático (e soa familiar a mais de um caso, não soa?). A protagonista da série, Irmã Noite (interpretada pela magnífica Regina King), é uma cidadã norte-americana que nasceu no Vietnã, mas se mudou para Tulsa, onde a trama principal acontece. Nós a vemos lidar não só com racismo, mas com a resistência de alguns americanos a aceitar de fato o Vietnã como parte da nação, e os seus nativos como iguais. Outro detalhe é que o presidente Redford, bem mais alinhado com as demandas sociais do que o seu antecessor, instituiu medidas muito necessárias de reparação histórica para a população negra após os episódios violentos de racismo nos Estados Unidos, como o trágico (e real) Massacre de Tulsa. Se você não sabe o que é reparação histórica, dá uma lida nesse texto do Alma Preta. Esse processo inclui ações afirmativas como as cotas em universidades e concursos, e medidas econômicas, como a concessão de auxílios – mas isso é (ou deveria ser) apenas o começo.

Por outro lado, na série da HBO alguns grupos racistas se voltam contra essas medidas de reparação (não muito diferente do que acontece agora, né) e as usam como pretexto para justificar seu ódio.

Os vilões da série: Supremacistas brancos

Isso nos traz aos vilões da história: grupos terroristas que acreditam na ideia absurda da supremacia branca. Entre eles, a Klu Klux Klan e um movimento que surge na ficção, a Sétima Kavalaria. Como eu mencionei, a minissérie discute a fundo a questão racial e, para mim, esse é o melhor aspecto da produção. Embora aborde esse problema de uma maneira ficcionada, ela não se esquiva de apontar a relação com a nossa realidade. Pelo contrário, a narrativa fantasiosa é usada para criticar problemas muito reais no mundo de hoje (e no passado também, diga-se de passsagem).

A Sétima Kavalaria, um grupo terrorista americano que acredita em supremacia branca (Fonte)

Na realidade atual de Watchmen, a Kavalaria se apropriou do discurso do Rorschach, e usa palavras dele para alimentar seu ódio. Assim como a Klan, seus membros escondem o rosto, mas vestindo uma máscara parecida com quela que o antigo herói usava. Aliás, eu pretendo falar mais sobre isso no próximo texto a respeito da série, mas adianto que existe entre os fãs uma discussão muito interessante sobre isso: será que o Rorschach apoiaria essa organização? Deixo aqui um texto pra vocês refletirem.

Uma das diferenças sociais que chama a atenção na série, no início, é a maneira incisiva como esses grupos são rechaçados e punidos. Considerados inimigos públicos odiosos e violentos (como deviam ser), a polícia trabalha ativamente para acabar com eles. Nós assistimos os detetives – incluindo o Espelho e a Irmã Noite – interrogando integrantes desses grupos terroristas, investigando seus crimes e tentando impedir as ações deles a qualquer custo. Comparando com os dias de hoje – em que o racismo da força policial se torna cada vez mais evidente ao redor do mundo inteiro – isso parece quase utópico, não é? Nos EUA (assim como no Brasil), a violência policial contra a população negra é tão devastadora, e ao mesmo tempo tão constante. Ver uma polícia que é abertamente antirracista em Watchmen soa, de fato, como uma utopia distante.

É claro que, da mesma forma que no “mundo real”, as coisas não assim são tão simples. Quando a narrativa se desenrola, a gente percebe que nem todos os personagens são contrários a essa ideologia nojenta. E é aí que a história volta a se parecer muito com a nossa realidade. Watchmen explora o racismo institucional e histórico da polícia, e as suas ramificações, incluindo a relação entre grupos racistas e a política. Se por um lado a sociedade retratada na minissérie parece mais avançada que a nossa nessa questão (a exemplo das políticas de reparação histórica que eu já citei, instituídas pelo presidente Redford), por outro lado, ainda existe todo um sistema opressor de racismo estrutural. Apesar de tudo, a minissérie deixa evidente que aqui os supremacistas brancos são os vilões. Com a benção do criador Alan Moore, a narrativa se aprofunda no debate sobre preconceito racial e suas terríveis consequências, além de trazer protagonistas negros, como Regina King e Yahya Abdul-Mateen.

Isso, para mim, é crucial na minissérie: por mais que esse debate em torno do racismo se torne cada vez mais complexo ao longo da temporada, os terroristas que acreditam na balela da “supremacia branca” são os caras maus. A história pode até ter diferentes antagonistas, mas não há dúvidas de que eles sejam inimigos da sociedade. Tanto no mundo de Watchmen, quando no nosso.

Conheça os novos personagens

A série traz vários personagens antigos, como o Ozymandias, a Laurie, Dr. Manhattan e de certa forma até o Rorschach, mas eu quero falar é dos novos personagens.

Como eu mencionei, a existência de justiceiros e heróis mascarados é proibida por lei no universo de Watchmen desde os anos 70. Então por que a gente vê os personagens usando máscaras o tempo inteiro? A resposta é simples. A trama central da minissérie acontece na cidade de Tulsa, onde grupos terroristas como a Kavalaria e a KKK são uma ameaça constante. Em retalhação à repressão da polícia, a Kavalaria orquestrou um grande ataque chamado por eles de “Noite Branca“. Nesse episódio, os policiais da cidade tiveram suas casas invadidas na véspera do Natal, e a maioria foi brutalmente assassinada. Desde então, foi criada uma lei permitindo que os integrantes da polícia usassem máscaras para manter sua identidade em segredo, por segurança. E assim os detetives da corporação, como o Espelho, criaram “personas” – exatamente da forma que os super-heróis faziam antes.

Mesmo que na série a gente até veja um ou outro herói trabalhando ilegalmente (como o Senhor Sombra, ou Mister Shadow), os mascarados agora são os detetives (junto com os policiais), que acabam não agindo muito diferente dos antigos justiceiros.

Irmã Noite (Sister Night)

Irmã Noite, ou Sister Night no original, é o codinome de Angela Abar (Regina King). Ela nasceu em Saigon, no Vietnã, dois anos antes do país ser incorporado aos EUA. Seu pai e sua mãe, ambos americanos vivendo no país asiático na época da guerra, morreram em um atentado. Angela foi criada como uma órfã no Vietnã, onde concluiu os estudos e mais tarde se tornou uma oficial da polícia de Saigon. Foi lá que ela conheceu o seu marido, Calvin. Os dois se casaram e se mudaram para os Estados Unidos, para viver em Tulsa, onde Angela continuou trabalhando como policial. Durante a Noite Branca, os dois foram atacados em casa, mas tanto Angela quanto o marido sobreviveram. Já o parceiro dela, Doyle, foi assassinado junto com a esposa quando a casa deles também foi atacada. Doyle tinha três filhos, adotados por Angela e Calvin após o incidente.

Regina King como Angela Abar, a Irmã Noite, cujo uniforme parece o hábito de uma freira (HBO)

Espelho (Looking Glass)

Espelho, ou Looking Glass, é o codinome de Wade Tillman. Quando ele era adolescente, Wade testemunhou de perto a destruição causa pelo monstro que Adrian Veidt fez cair sobre a cidade de Nova York. Wade já tinha uma personalidade ansiosa, mas o trauma fez com que ele desenvolvesse uma paranoia constante e profunda. Ele vive sozinho em um bunker – um abrigo nuclear – e utiliza sempre um material refletivo em volta da cabeça para impedir que possíveis telepatas leiam a sua mente. Entrou para a polícia de Tulsa após o episódio da Noite Branca, quando assumiu a identidade de Espelho como um detetive da corporação. Em geral é ele quem faz os interrogatórios, porque Wade tem uma excelente habilidade para dizer se alguém está mentindo. É interpretado por Tim Blake Nelson.

Tim Nelson como Wade Tillman, o Espelho, que raramente é visto sem a sua máscara (Fonte)

Os outros detetives mascarados de Tulsa são: a Pirata Jenny, bissexual e anarquista; o Red Scare (Ameaça Vermelha ou Pavor Vermelho, referência à política anti-comunismo dos EUA, que explorava os medos da população), um comunista que se mudou para os Estados Unidos; e o Panda que, embora ele seja visto em uma posição de autoridade no departamento, a gente ainda não sabe exatamente qual é seu cargo. Eu só não vou falar sobre os outros personagens como Lady Trieu e Judd Crawford, porque isso é algo que vocês precisam assistir na própria série. Senão eu acabo dando spoilers e estragando o suspense da narrativa para vocês.

O Massacre de Tulsa

Ataque racista destruiu a chamada “Wall Street Negra”

Chegamos ao último tópico do artigo de hoje: o Massacre de Tulsa. Watchmen “brinca” com os fatos históricos, mas alguns acontecimentos são bastante reais. E, na série, são retratados de maneira muito fiel. Um deles é o ataque que ocorreu em Tulsa em 1921, e dizimou uma próspera comunidade negra nos Estados Unidos. Um episódio que por décadas foi apagado da história americana, sendo propositalmente retirado dos livros didáticos nos EUA para esconder essa evidência do passado racista norte-americano. Agora a série da HBO levantou essa discussão outra vez, junto com os protestos contra o racismo nos Estados Unidos.

Embora ele sirva como o pano de fundo para toda a trama central da minissérie, se você não conhece a história as cenas podem ficar meio perdidas. Então, hoje eu vou falar um pouco sobre esse ataque hediondo também.

Um teatro destruído e incendiado em Tulsa, Oklahoma, durante o ataque racista de 1921 (Fonte)

Considerado o pior incidente de violência racial da história dos Estados Unidos, o massacre aconteceu entre os dias 31 de maio e 1º de junho. Multidões de residentes brancos invadiram o distrito de Greenwood em Tulsa, no estado de Oklahoma, que era a comunidade negra mais rica dos EUA – chamada de “Black Wall Street”. O ataque foi supostamente motivado pelas tensões raciais da época, mas a gente sabe muito bem que isso foi só usado como desculpa para destruir um próspero bairro negro, e acabar com tudo o que eles tinham conquistado até ali. Usando armas, explosivos e incêndios, esse ataque tão covarde foi realizado tanto por terra quanto por aviões particulares. Mais de 800 moradores foram internados, com pelo menos 36 mortos oficiais – um relatório conduzido em 2001 apontou entre 100 e 300 mortos. Além disso, 35 quarteirões do distrito foram arruinados.

Um aspecto importante desse ataque é que ele tinha um objetivo, acabar com o bairro de Greenwood. Justamente porque se tratava de uma comunidade rica, de sucesso, que estava ajudando a população negra a prosperar nos Estados Unidos. E toda vez que eu vejo casos como o Massacre de Tulsa, eu penso naquela máxima que se encaixa muito bem aqui, “os brancos tem muita sorte que as pessoas negras querem igualdade, não vingança”. A motivação financeira desse atentado terrorista (não tem palavra melhor para definir o que houve) é tão óbvia, e isso o torna ainda mais cruel. As casas e as lojas foram saqueadas e incendiadas, os assassinos mataram homens, mulheres e crianças sem distinção. Assim, da noite para o dia, dez mil pessoas negras ficaram desabrigadas. Os prejuízos financeiros chegaram a mais de um milhão e meio de dólares em imóveis, e pelo menos 750.000 dólares em bens pessoais. Se os valores forem atualizados para os dias de hoje, estamos falando em 32 milhões de dólares em danos materias.

É claro que o prejuízo humano, o prejuízo em vidas, é infinitamente maior, mas o ponto é que brancos racistas fizeram tudo isso só porque não suportaram assistir um bairro negro prosperar. O deus do racismo sempre foi o dinheiro, e não se enganem, ainda é. Eu sinceramente não consigo nem falar mais sobre esse caso, mas para quem quiser ler um texto mais completo sobre o ataque em Tulsa, vou deixar aqui esse excelente artigo da BBC. Vale a pena conhecer o que aconteceu.

Uma cena do ataque racista à Tulsa em 1921, retratado na minissérie Watchmen (HBO)

A decisão da HBO de incluir as cenas do massacre logo na abertura da temporada, em seu primeiro episódio, é formidável e importantíssima. E eu fiz questão de mencionar o evento aqui porque quando você assistir a série, eu quero que você saiba exatamente a que essa parte de refere, e o que isso significou para toda a população negra dos EUA. Eu preciso que você tenha em mente o quão devastador foi o Massacre de Tulsa, antes de começar a assistir Watchmen. Como eu disse, o grande mérito dessa produção é o debate que ela traz sobre o racismo. Mesmo se você não assistir, espero que o texto de hoje tenha despertado alguma reflexão.


Infelizmente eu ainda não encontrei uma forma de assistir a série online, apenas nos canais oficiais (e pagos) da HBO. E eu só consegui ver em um fim de semana que eles liberaram o sinal! Se alguém sabe onde a série está disponível online, por favor, deixa pra gente nos comentários ou manda uma mensagem pelo formulário de Contato.

Porque o Gavião Arqueiro é o meu vingador favorito

Eu confesso que sou mais fã da DC, mas também curto alguns títulos da Marvel. Vocês já sabem que eu adoro Deadpool e os X-Men, além de ter me divertido bastante com o filme do Pantera Negra. Só que quando o assunto é vingadores versus mutantes não tem jeito, eu vou ser sempre #teamXMen. Mesmo assim, o Gavião Arqueiro é um dos meus heróis favoritos de todos os tempos! Por isso, hoje eu resolvi falar um pouco sobre ele, dividir com vocês porque eu gosto tanto do Clint Barton.

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Clint Barton na sua revista-título, Gavião Arqueiro (Fonte)

Só pra constar: eu ainda não superei o fato dele não ter aparecido em Guerra Infinita – e para desespero dos meus amigos, vou continuar reclamando disso, sim. Considerem-se avisados, certo?

Clint Barton é um desastre

A minha saga preferida do Gavião é a fase do Matt Fraction e, como vocês podem ver, eu escolhi imagens dessa revista pra ilustrar o post de hoje. Ela tem uma história muito bacana, uma arte fantástica e a série é um excelente ponto de partida para quem tem vontade de ler HQs de super-heróis, mas não sabe por onde começar. Principalmente se você já acompanha os filmes da Marvel! É fácil encontrar as revistas pra ler online, e a Panini lançou aqui no Brasil em uma coletânea de encadernados (a ordem de leitura é Minha vida como uma arma, Pequenos acertos, a recém-lançada Rio bravo e Vingadora da Costa Oeste). Quem gostar, o título mais atual é All New Hawkeye (disponível online), que também está sendo publicado pela editora como Gavião Arqueiro. Vale a pena dar uma conferida.

E voltando às minhas razões pra adorar o Gavião, verdade seja dita (e eu falo isso com todo o carinho do mundo): o Clint é um desastre em forma de gente! Ele simplesmente não funciona antes de tomar café, vive coberto de band-aids e curativos, o apartamento dele é uma bagunça, ele considera “pizza de ontem” uma refeição, e usa um All Star de cano alto na sua cor preferida. Ou seja, ele é muito gente como a gente.

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“Seu All Star azul combina com o meu… roxo, de cano alto.”

Deixando as brincadeiras de lado, eu gosto bastante dos heróis que são assim, comuns. Que não tem grandes poderes e nem grandes fortunas, que cometem erros banais, que são capazes de salvar o mundo mas não conseguem colocar a própria vida em ordem. É justamente o que eu adoro no John Constantine, e no Gavião Arqueiro. Acho que eu tenho é uma queda por esses personagens que parecem meio fracassados, embora lá no fundo eles sejam incríveis (às vezes, bem lá no fundo). E a saga do Fraction constrói com muita propriedade esse lado mais humano, mais real, do Gavião.

Um detalhe interessante que eu vejo muitos fãs comentando é que, durante essa série, Clint parece lidar com uma depressão crônica. Isso aparece nos pequenos detalhes: a forma como ele descuida da alimentação e dos cuidados com ele mesmo, a “mania” de se isolar e evitar contato com outras pessoas, a apatia, e a maneira como ele se permite cair em uma rotina de inércia e desanimo. É um retrato muito autêntico de alguém que, mesmo conseguindo manter uma “vida normal”, ainda luta pra manter a própria saúde mental diariamente. Se vocês chegarem a ler, prestem atenção nisso! A história faz um ótimo trabalho ao introduzir esse aspecto da narrativa de forma simples, sem alarde, e sem desmerecer o lugar do Clint como um herói.

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Nos filmes, Clint Barton é interpretado pelo ator Jeremy Renner (Fonte)

Para completar, o Gavião apareceu nos quadrinhos inicialmente como vilão, na década de 60. Clint tinha boas intenções, mas se tornou um bandido depois de ter sido acusado injustamente por um roubo. Ele cresceu com um pai abusivo e alcoólatra (algo que sem dúvida deixou marcas na personalidade dele), foi mandado para um orfanato junto com o irmão mais velho Barney, e os dois acabaram fugindo pra se juntar ao circo. O Barney acabou indo pro lado errado, virando um criminoso sob o nome de Flecha Certeira.

Com um passado tão difícil e conturbado, é incrível que o Clint tenha conseguido se tornar não apenas um herói, mas uma pessoa tão legal. Muito da minha admiração por ele vem daí, também.

O Gavião Arqueiro é surdo

Eu reclamei disso em outro post, então vocês sabem que o Clint Barton é surdo e que nas revistas ele já apareceu usando aparelhos auditivos. É algo que eu adoraria ver nos filmes, embora a Marvel não pareça ter planos de incluir esse detalhe no seu universo cinematográfico. Na HQ, a surdez do Gavião é uma característica recorrente.

A primeira vez que ele perdeu a audição foi em 1983, algo que permaneceu como parte da sua trama até a série Heróis renascem, de 1998 (aqui tem uma linha do tempo sobre isso, em inglês). Em 2014, durante a fase do Matt Fraction, mais uma vez é mencionado que o personagem ficou surdo. Vale lembrar que nas duas ocasiões o Clint passa a usar aparelhos auditivos – nos anos 80 feitos pela SHIELD, na saga atual, pelo Tony Stark. Imagina que incrível se isso fosse acrescentado aos filmes! Ainda mais que nas revistas essa parte vem sendo trabalhada de uma forma muito legal, como vocês podem ver.

Várias vezes Clint usa a língua de sinais pra se comunicar com outras pessoas, e quando seus aparelhos não estão por perto ou não estão funcionando, ele sempre diz que não consegue ouvir. Em outros momentos, personagens como o Deadpool também usam a linguagem de sinais para falar com ele. Aliás, quando os dois estão trabalhando juntos, Wade tem o hábito de levantar a sua máscara para o Gavião poder ler seus lábios.

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Clint Barton se comunica com Barney através de sinais e ajuda o irmão, que usa uma cadeira de rodas, a subir as escadas (Marvel)

Eu só espero que mantenham essa característica do personagem nos próximos títulos. Afinal, os quadrinhos tem uma tendência de estar sempre reformulando suas histórias, incluindo a origem e os aspectos mais autênticos dos heróis. Por exemplo, tem fases em que o Professor Xavier volta a andar, tem personagem que perde um braço e depois ele cresce de novo (como o Daken), até uma revista em que os pais do Batman sobrevivem e quem morre é o Bruce Wayne.

Isso pode ser algo problemático quando resulta no apagamento de uma deficiência, seja fazendo o herói ser magicamente curado ou fingindo que aquela parte da narrativa dele nunca existiu. Eu não acho que a Marvel vá fazer isso com o Gavião, porque a série do Fraction teve repercussão extremamente positiva entre os fãs, e se tornou uma das representações mais icônicas do Gavião Arqueiro. Nesse sentido, a surdez é algo que faz parte do Clint, assim como a sua habilidade com o arco e flecha ou a sua preferência pela cor roxa, ou até o seu “vício” no café.

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Clint encara o telefone, o último quadro destaca seu aparelho auditivo (Marvel)

Lucky, o cachorro da pizza

Uma das melhores coisas dessa fase do Matt Fraction é, sem dúvidas, o Lucky. Ele é um cachorro que o Clint acaba adotando logo no começo da história, depois que o bichinho sofre um acidente. Lucky é muito esperto, não tem um olho, e adora pizza. É ou não é o melhor amigo do homem?

O nome dele significa Sortudo (e, se eu não me engano, as revistas publicadas no Brasil usam a versão traduzida), ironicamente. O cachorro pertencia a uma gangue que vivia ameaçando a vizinhança do Gavião. Quando ele foi atropelado num confronto com os bandidos, foi o arqueiro quem o socorreu. Clint levou o cachorro para o veterinário e resolveu cuidar dele, ainda que no início estivesse relutante em trazer o Lucky de volta pra casa. Depois disso os dois se tornam inseparáveis, Lucky se revela um parceiro leal e dedicado a tomar conta do prédio, com um excelente faro para investigações (e, claro, para fatias de pizza).

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Lucky demonstrando muito respeito pelo espaço pessoal do dono (Marvel)

E aí, será que vocês se apaixonaram pelo Gavião Arqueiro (e pelo Lucky, o cachorro da pizza!) como eu me apaixonei? Se vocês resolverem ler as revistas, não se esqueçam de me contar o que acharam! Eu sempre quero falar sobre o Clint Barton. Melhor ainda se for para reclamar da ausência dele em Guerra Infinita (yup, ainda não superei).


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