Special tem um protagonista gay com paralisia cerebral e um senso de humor irreverente

Acabou de chegar na Netflix uma série maravilhosa e hilária, que eu preciso apresentar pra vocês: Special. Quem gostou de My mad fat diary ou Please like me, com toda certeza vai adorar. O que é engraçado porque Special é uma produção americana, mas também consegue manter aquele senso de humor ácido, que é ao mesmo tempo desconfortável e tão familiar. Eu costumo dizer que eu não sou muito fã de comédia – Brooklyn 99 é uma exceção, como vocês sabem – mas esse aqui é o tipo de humor que eu curto. Special me fez rir alto em vários momentos. Se eu tivesse que definir a série, eu diria que ela é uma espécie de comédia dramática do dia a dia.

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O protagonista Ryan Hayes, com os amigos Kim e Carey em Special (Fonte)

Baseado em uma história real

Em Special a gente conhece Ryan Hayes, um rapaz de vinte e oito anos que mora com a mãe e vai começar um estágio (não-remunerado) em um site que produz artigos virais, desses que a gente adora acessar quando está procrastinando. Logo no primeiro dia ele faz amizade com a colega Kim Laghari (Punam Patel), a escritora mais prestigiada do tal site. Kim incentiva Ryan a buscar independência e o apresenta aos seus amigos, como o também jornalista Carey (Augustus Prew). Ryan ainda tem uma mãe amorosa, mas um pouco controladora. Karen Hayes (Jessica Hecht) é uma enfermeira que trabalha duro e criou o filho sozinha, já que o pai dele abandonou a família faz mais de vinte anos. Ela se desdobra entre a casa onde vive com Ryan, o hospital, e a casa da sua mãe idosa, que embora more sozinha, sempre precisa de assistência e companhia.

Special é uma produção autobiográfica, baseada no livro I’m special: and other lies we tell ourselves escrito por Ryan O’Connell, que também é roteirista e ator principal da série. Assim como O’Connell, o protagonista é escritor, é gay, e tem paralisia cerebral. E essa é a grande sacada da série! Não apenas a diversidade que ela acrescenta às produções de hoje – ainda tão necessária – mas essa autenticidade, essa cara original que a torna mais fascinante a cada episódio. E a Netflix ainda está apresentando um formato novo: os episódios são curtinhos, em torno de quinze minutos. No fim das contas a gente fica é querendo mais, e a primeira temporada passa voando! Eu vi tudo em dois dias e estou sofrendo por ter que esperar até o próximo ano para continuar assistindo.

Vocês se lembram do que eu comentei sobre lugar de fala, não é? Special é sensacional exatamente por ter sido escrita pelo Ryan. Ele fala sobre a própria experiência, e brinca com situações absurdas que ele passou, convidando o público a rir junto com ele. Ryan O’Connell é alguém que tem propriedade pra falar sobre a realidade de um homem gay com paralisia cerebral, porque ele é um homem gay com paralisia cerebral. Ao invés de usar a deficiência desse personagem apenas como mecanismo de enredo, ou como uma motivação para o desenvolvimento de outros personagens, Ryan é sem dúvida tratado como o protagonista da sua própria história. Mesmo quando outras pessoas recebem destaque na trama – por exemplo a mãe dele, que também tem um arco de crescimento pessoal – a narrativa não tira a autonomia do seu personagem. Pelo contrário, a série é toda sobre o Ryan tentando encontrar o lugar dele no mundo, com o apoio das pessoas que ele ama, como sua mãe e seus melhores amigos. É a grande diferença entre Special e produções como Atypical e Fragmentado. Embora esses títulos também se proponham a retratar grupos marginalizados – e claramente fizeram pesquisas a respeito – os dois cometeram um erro grave ao não incluir pessoas desses mesmos grupos na produção. O resultado é que Fragmentado apresenta um retrato grosseiro e equivocado sobre as pessoas com TDI, enquanto Atypical se torna uma crônica não sobre o protagonista que tem autismo, mas sobre como a família sofre com isso.

Um erro que Special não comete, porque garante que o protagonismo seja do Ryan – o que vai muito além de elegê-lo como personagem-título. A autonomia do personagem é evidenciada por um enredo que dá lhe dá espaço e voz ativa, que permite que Ryan fale por si mesmo e tenha sua opinião respeitada, que não transforma os sentimentos e as necessidades dele em um “fardo” para outros personagens.

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Ryan O’Connell como Ryan Hayes, um papel autobiográfico (Fonte)

Sabem do que mais? Ryan não tinha qualquer experiência como ator. Mesmo enquanto escrevia o roteiro inicial, ele não pretendia acumular a função de protagonista. “Eu não tinha o menor desejo de atuar”, Ryan O’Connell confessou à revista Vulture. Como a produção tinha um baixo orçamento, eles não poderiam contratar um ator profissional que se encaixasse no perfil. Foi aí que o escritor decidiu entrar em nessa – eu fico muito feliz, porque a performance dele é uma das melhores coisas em Special! Além, é claro, de permitir que o público conheça um protagonista com paralisia cerebral, não mais um ator sem nenhuma deficiência interpretando um papel.

Do ponto de vista da representatividade isso é importantíssimo, e muito, muito raro. Já passou da hora de atores e atrizes com deficiência terem oportunidade de representar a sua própria realidade na ficção. Personagens com deficiência são uma exceção, mas é ainda mais difícil ver esses profissionais nas telas.

No “armário” sobre ser gay e deficiente

Um dos aspectos mais interessantes da série – e da história particular do roteirista – é que Ryan esteve no armário não apenas sobre ser gay, mas sobre ter paralisia cerebral. Quando Ryan O’Connell se mudou para Nova York, todas pessoas que ele conheceu ali pensavam que ele mancava por causa de um acidente de carro recente, e não graças às sequelas da doença. “Eu nunca os corrigi porque, a meu ver, eu nunca me identifiquei com o fato de ter paralisia cerebral”, contou o escritor à Vulture“Meu caso era muito leve, e no fundo eu sempre procurava qualquer oportunidade para me distanciar da paralisia cerebral”. Para O’Connell, a deficiência era o aspecto mais problemático da sua identidade. Em uma entrevista para o New York Times Ryan disse que se descobriu gay aos doze anos e, apesar da insegurança natural sobre a sua sexualidade, ele sempre teve mais dificuldade em aceitar sua condição física.

“Eu tive muita sorte por ter uma família e tantos amigos que me apoiaram, então esse nunca foi o meu maior problema, nunca foi ‘a minha cruz’. Ser deficiente é que fazia com que eu tivesse vergonha, desde muito novo. Enquanto estava crescendo eu fiz várias cirurgias, eu estava sempre na fisioterapia, tinha que usar aparelho nas pernas. Claro que, nessa sociedade capacitista em que a gente vive, você só quer ser igual a todo mundo.

É essa que sempre foi a minha luta – aceitar essa parte de mim mesmo, e não tentar fugir disso a todo custo.”

 

Ryan O’Connell
roteirista, ator e escritor

 

A relação complicada do autor com a paralisa cerebral é abordada em Special, que traz esse “mal entendido” em torno do acidente de carro como o dilema central da primeira temporada. A gente não vê o momento em que o protagonista “abre o jogo” a respeito da sua sexualidade porque isso já aconteceu há mais tempo. A mãe dele, seus amigos e até a chefe sabem que ele é gay, e ninguém tem problema com isso. Não é essa faceta da sua identidade que o personagem tenta esconder ou disfarçar. Por outro lado, Ryan ainda está em negação sobre a paralisia cerebral e as suas implicações cotidianas. Ele não parece inseguro a respeito da sexualidade, exceto em um momento: quando ela se sobrepõe à sua deficiência. Isso aparece, principalmente, na sua vida amorosa.

Não é de estranhar. Existe muito preconceito contra pessoas que tem deficiência física, principalmente no meio LGBT. A nossa sociedade cultua um “corpo perfeito”, e isso não diz respeito apenas aos padrões de beleza. Pessoas que fogem do padrão considerado por muitos como “normal” (leia-se: sem nenhuma deficiência aparente) são colocadas à margem em muitos grupos e situações sociais. Apesar dos esforços direcionados para a inclusão e a acessibilidade nos ambientes gays, nem todos os espaços estão abertos pra receber frequentadores com deficiência. Mais que isso, a invisibilidade dessas pessoas dentro da própria comunidade LGBT é um problema real, assim como a discriminação. Special mostra sem nenhum puder que deficiência física não é sinônimo de abstinência sexual, pelo contrário, embora muita gente ainda acredite nisso.

“Sendo deficiente nesse mundo, você encontra muita gente babaca. Pessoas que vão te infantilizar e que não vão saber como tratar você.”

 

Ryan O’Connell
roteirista, ator e escritor

 

A série aborda muito bem a intersecção entre sexualidade e deficiência e, mesmo que o desafio de Ryan seja abraçar a sua condição física, Special não ignora a importância de ter um protagonista gay. O’Connell, junto com os outros produtores, tem a consciência de que representação LGBT na mídia é algo fundamental. O roteirista, inclusive, falou que pretende escalar atores LGBT para os personagens LGBT. “É porque que acho que pessoas hétero não podem interpretar gays? Não” disse Ryan ao site The Wrap, “mas eu sei que muitos atores gays de talento não recebem as mesmas oportunidades que os atores heterossexuais, por serem gays”. Assim como o diretor Jordan Peele, que faz questão de escalar protagonistas negros nos seus filmes, a decisão de O’Connell é uma atitude política que tenta acrescentar mais diversidade ao entretenimento. E como em Crônicas de San Francisco, Special também traz profissionais LGBT atrás das câmeras. O ator Jim Parsons (famoso por interpretar o Sheldon de The Big Bang Theory) que é gay, é um dos produtores executivos junto com Ryan.

Dinâmica entre mãe e filho com deficiência

Nós precisamos falar sobre a Karen, mãe do Ryan. Ela é uma excelente personagem! Eu estou torcendo tanto para ela, gente, a Karen merece ser feliz. Desde o início fica bem claro que ela ama o Ryan, aceita o filho, e só quer o melhor para ele. Além disso, os dois tem uma amizade legal, algo que a gente nem sempre vê em famílias com filhos LGBT. Ela tem, sim, esse lado meio super-protetor, mas em nenhum momento chega a ser algo disfuncional ou abusivo. A Karen se preocupa com o Ryan como qualquer mãe ou pai deveria se preocupar, e está disposta a ouvir e entender o filho. Mais importante, ela respeita as decisões dele. Por exemplo, quando o Ryan diz que quer morar sozinho, no primeiro momento a Karen reage com visível apreensão. Só que ela jamais o impede de fazer mudança. Ao contrário, ela concorda, e se oferece para ajudar Ryan a encontrar o apartamento ideal. E ajuda mesmo, nada de tentar fazer ele mudar de ideia ou sabotar a mudança do filho para a casa nova. 

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Karen junto com o filho Ryan em um momento carinhoso (Fonte)

Isso não significa, porém, que não existam conflitos na relação deles – conflitos muito naturais no ambiente familiar. Ryan e a mãe tem uma relação de dependência, que veio dos dois lados. Graças à paralisia cerebral, cuidar do filho sempre foi uma grande parte da vida da Karen, mas ela também sente necessidade da companhia e da amizade dele. Por outro lado, Ryan quer independência, mas ainda recorre à mãe quando precisa de ajuda com problemas tão corriqueiros como uma privada entupida. É uma relação onde os dois precisam crescer. Ryan precisa aprender a respeitar a individualidade da mãe, e entender que, às vezes, é ele quem deve assumir o papel de ajudá-la. Karen precisa dar o espaço que o filho deseja agora, mas também deve entender que, de vez em quando, Ryan ainda vai recorrer a ela para preencher as lacunas do seu aprendizado. Como na cena em que os dois estão cozinhando e a mãe tenta ensiná-lo a quebrar um ovo.

Esse momento em particular levanta uma questão interessante. Talvez Karen pudesse ter ensinado o Ryan a fazer isso antes, ou talvez ela pudesse ter comprado um utensílio para ajudar ele a quebrar os ovos (que pode ser muito útil para quem não tem uma das mãos, ou tem problemas de coordenação motora). Só que é justo culpar a mãe por isso, por não ter ensinado o Ryan a quebrar um ovo anos atrás? Eu acho que não. Na série, a Karen é uma mãe que procura dar ao filho tudo que ele precisa para lidar com o mundo da melhor forma possível, independente da sua deficiência. A paralisia cerebral trouxe algumas barreiras para o Ryan, e é natural que ele não tenha aprendido a fazer certas atividades que parecem tão comuns. Por isso é importante que ele tenha oportunidade de continuar esse processo de aprendizado. Pelo que a gente já viu em Special, a Karen sabe disso, e tem toda a intenção de ajudar o filho. Ryan tem uma ótima mãe.

Um detalhe que me chamou atenção e eu acho que nem todo mundo vai pegar (porque é mencionado muito rapidamente), é que a Karen queria ser médica. Tem uma hora que ela está ajudando a mãe dela, que pede para ver um médico – e a Karen lembra que ela é uma enfermeira, muito capacitada para lidar com a situação. A sua mãe então retruca “mas você não é médica” e a Karen responde algo como “às vezes os planos mudam”. Dá a entender que ela tentou, ou ao menos planejava, seguir a profissão. A gente ainda não sabe se o plano não deu certo por causa do casamento, ou da separação, ou se teve algo a ver com a paralisia cerebral do Ryan… E, até o momento, eu gostei da forma como a série abordou o assunto.

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Kim e Ryan trabalham juntos e viram melhores amigos em Special (Netflix)

É aquilo que eu disse lá em cima: Special não deixa de abordar os dramas e dilemas dos outros personagens, como a mãe do Ryan ou a melhor amiga dele, a Kim – mas nem por isso a série tira do Ryan seu lugar de protagonismo. Além de ter um personagem central que é bem construído e com quem o publico pode se relacionar, Special apresenta um excelente elenco de apoio. Sem atropelar a autonomia do protagonista.  E como o texto de hoje já estava enorme (para variar), eu vou encerrando por aqui!

Fica a minha recomendação: se você está procurando uma série de humor divertida, e talvez meio cínica, mas com um romance gay adorável, assista Special! Eu confesso que eu peguei para assistir só por essa questão da representatividade, já que esse é sempre o foco da nossa discussão aqui no Estanteante. Acabei me apaixonando pelo Ryan e me divertindo com o senso de humor dele. Espero que vocês também gostem!


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Exame de Consciência expõe abusos sexuais na Igreja Católica

Outra produção que eu recomendei pra vocês, mas ainda não tinha me aprofundado, é Exame de Consciência. Uma série documental dividida em três episódios de cinquenta minutos, que investiga várias acusações de pedofilia em escolas e outras instituições católicas da Espanha, e está disponível no catálogo da Netflix. A série pode muito bem ser assistida como um documentário único, já que as três partes juntas totalizam pouco mais de duas horas e meia de duração. Mesmo assim, como é um tema complicado e tão difícil de ver, talvez seja uma boa ideia dar esse intervalo entre os episódios.

De qualquer forma, é uma dessas obras que precisam ser vistas, compartilhas e, acima de tudo, discutidas. Se vocês puderem, assistam mesmo, e divulguem! O documentário é um lançamento de 2019 e uma produção original da Netflix, então muita gente ainda não conhece. Não deixem de ver pelo menos o trailer, aqui.

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Imagem escolhida como capa do documentário Exame de Consciência, fazendo alusão aos anos de silêncio imposto às vítimas pela Igreja Católica (Netflix)

Rede de pedofilia dentro da Igreja

Um dos aspectos mais devastadores – e ao mesmo tempo mais importantes – da série é que ela não trata de um caso isolado, ou mesmo de uma única escola, um único padre. E, embora os responsáveis pelos abusos sejam identificados, fica evidente que essa não é uma questão individual. O documentário escancara uma verdadeira rede de pedofilia, que por muitas décadas silenciou as vítimas e protegeu seus abusadores. Um legado de horror que não apenas surgiu no seio da Igreja Católica, mas foi acobertado e facilitado pela própria Igreja ao longo de todos esses anos. É isso que ficou martelando na minha cabeça depois de ver Exame de Consciência: se pelo menos UM dos padres – qualquer um deles – tivesse sido preso (ou afastado!) logo na primeira denúncia, a Igreja poderia ter evitado centenas de abusos. Não dá para a gente ignorar essa responsabilidade. Ou, pra usar um jargão muito católico, essa culpa.

Além de sobreviventes, Exame de Consciência ouviu também dirigentes da Igreja e das instituições envolvidas, e até um dos padres pedófilos. Nos depoimentos fica bem claro que a Igreja sabia desses crimes, muitas vezes graças às denúncias feitas pelas famílias, e não tomou nenhuma providência para evitar os abusos ou garantir a integridade das crianças. Nós vemos inclusive o caso de um homem que, quando ainda era só um rapaz e estudava no seminário, foi abusado por um padre mais velho, em posição hierárquica muito superior à sua. Os abusadores usavam sua autoridade e prestígio como figura da Igreja para manipular as possíveis vítimas. Em um primeiro momento, para ganhar sua confiança; depois, para exigir silêncio.

Na maior parte dos relatos, os pedófilos eram professores, padres que lecionavam em colégios religiosos e tinham contato diário com os meninos. Eles ficavam sozinhos com as alunos em diversas situações, como exames físicos e passeios escolares. Muitos dos estudantes que foram abusados fizeram denúncias ainda naquela época, décadas atrás. A atitude da escola era sempre desacreditar as vítimas – mesmo quando eles estavam acompanhados pela família – e acobertar o episódio. Além de taxar o aluno como uma “criança-problema”, os pais também eram ameaçados pela direção do colégio, e tinham medo de represálias da Igreja, caso eles resolvessem seguir em frente com a denúncia. Um dos entrevistados menciona que, se você tivesse sorte, o padre responsável pelos abusos seria transferido para outro colégio. Ou seja, na melhor das hipóteses, um aluno até poderia se livrar do seu agressor, mas aquele mesmo padre estaria livre para abusar de centenas de crianças em uma escola diferente.

Para mim, isso foi o que deixou mais óbvio que a Igreja não tinha o menor interesse em proteger os alunos, apenas a sua reputação. É uma constatação devastadora.

E, por último, eu quero só lembrar que não se trata de uma questão restrita à Espanha. Nós já tivemos escândalos muito parecidos (e de proporções semelhantes) nos Estados Unidos, por exemplo. Aqui no Brasil também, e em mais de uma ocasião. Recentemente foi denunciada uma ordem religiosa onde as freiras eram abusadas e transformadas em escravas sexuais. Há casos absurdos de pedofilia na Itália e no próprio Vaticano, dentro da alta cúpula da Igreja. Isso sem falar da Argentina, e da Alemanha, e de muitos outros países. A situação é tão grave que o atual Papa tem clamado por medidas mais eficazes no combate à pedofilia e aos abusos sexuais dentro da organização – infelizmente, sem muito sucesso. O terrível panorama exposto no documentário Exame de Consciência não é uma situação isolada, é um padrão de comportamento.

A Igreja Católica enquanto instituição e, principalmente, enquanto entidade detentora de poder, deve reconhecer sua parcela de culpa. De responsabilidade. E tomar medidas concretas para punir os culpados, e evitar novos abusos. Medidas que precisam ir muito além dos discursos em público.

Produção original da Netflix

Como eu disse lá em cima, a série é uma produção original da Netflix. E o interessante é que o jornalista e cineasta espanhol Albert Solé nem cogitou procurar outra empresa para realizar o documentário. Segundo ele, mesmo que Igreja não quisesse censurar ou impedir a realização da série, era importante que ela fosse lançada em uma plataforma global e acessível – e a Netflix possui mais de 140 milhões de assinantes em 190 países. A escolha de uma companhia internacional permitiu que o assunto fosse abordado sem ambiguidades, algo que talvez se fizesse necessário em um país onde a Igreja Católica ainda detém tanto poder e influência política como a Espanha.

Ainda de acordo com Solé, Exame de Consciência foi um dos maiores desafios de toda a sua carreira. Principalmente graças à amplitude do escândalo, por ter que lidar “com histórias pessoais muito difíceis, que estavam enterradas há décadas sob um manto  espesso de silêncio”. Eu encerro o texto de hoje com essa citação fortíssima e, de novo, recomendo para vocês: assistam esse documentário.


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Sobre Dumplin’, sororidade e os personagens LGBT

Se você acessou a Netflix nos últimos dias você com certeza já viu alguma publicidade para Dumplin’, a mais nova comédia adolescente que estreou na plataforma. Eu admito que não cheguei a assistir o trailer, cliquei no play achando que seria uma história sobre como a personagem da Jennifer Aniston emagreceu e virou a Miss-Qualquer-Coisa – e que, portanto, eu teria muito a criticar. Isso que dá a gente não ler a sinopse!

Na verdade, Dumplin’ é sobre Willowdean: uma garota que ama Dolly Parton, concilia escola e trabalho, e tem uma melhor amiga inseparável, Ellen. Sua mãe, Rosie Dickson, participava de concursos de beleza na adolescência. Mãe e filha não poderiam ser mais diferentes! Enquanto Rosie encarna o papel da eterna “Miss”, a Will não tem nenhum interesse nos concursos, seja para participar ou assistir. E ao contrário da mãe, que vive de dieta em dieta, Will é gorda. Falando assim, parece uma receita ideal para aquela história clichê onde a menina gorda emagrece e dá a volta por cima – como Insaciável, poderia ser um desastre. Não é o que acontece aqui. O filme é, acima de tudo, sobre aceitação e amor próprio, sobre amizade e relacionamento familiar.

“Descubra quem você é, e seja de propósito.”

Dolly Parton

Porém, o que me encantou nessa produção é que Dumplin’ consegue ser mais que uma bela história de superação. Ao contrário de outros exemplos do gênero, essa adorável  comédia estabelece sua critica aos padrões de beleza sem precisar desmerecer outras mulheres, inclusive as mulheres que se enquadram no padrão. E, algo que realmente me surpreendeu, sem alimentar estereótipos negativos sobre garotas lésbicas ou bi.

Subvertendo a narrativa “clichê”

Talvez o enredo de Dumplin’ não seja o mais inusitado. Logo no início dá para sacar que Will ainda tem alguma insegurança em relação ao seu peso, por mais que ela pareça tão auto-confiante, e deve aprender a lidar com isso ao longo da história. A relação com a mãe é bastante complicada, mas as duas se amam, e também precisam aprender a lidar com as suas diferenças. Até agora, nada muito original, né? Entretanto, quem dispensa o filme como “uma comédia cheia de clichês” não poderia estar mais enganado.

Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que um clichê nem sempre é algo ruim – ou até mesmo pouco original. Um exemplo perfeito disso são histórias com personagens gays e finais felizes, que eu estou sempre recomendando para vocês. Claro, um “final feliz” é o que todo mundo espera numa história de romance, mas… as pessoas LGBT nem sempre têm isso, na ficção. Tantas narrativas com personagens queer acabam em tragédia, que um romance “água-com-açúcar”, estilo Disney, onde todo mundo vive feliz para sempre, acaba sendo a exceção. Mesmo que no gênero romance/comédia romântica de forma geral seja um clichê. Filmes como Livrando a cara e Com amor, Simon são desafiadores justamente porque mostram histórias de amor banais com personagens gays. Isso vale para as protagonistas gordas, também.

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Ellen e Will, melhores amigas para sempre em Dumplin’ (Fonte)

Quantos filmes ou séries vocês conhecem onde a protagonista é gorda? Aliás, esquece o gorda. Quantos vocês conhecem onde a protagonista não se encaixa em um padrão de corpo magro, bem diferente do que a gente está acostumado a ver no dia a dia? Claro, existem alguns exemplos, como Crazy ex-girlfriend e My mad fat diary, mas esses títulos são exceção. Ou seja: mesmo que Dumplin’ fosse só mais um filme adolescente, o fato de ter uma garota gorda como protagonista – que não se envergonha do próprio peso – já é uma inversão do clichê. Willowdean (Danielle Macdonald) rompe o estereótipo da protagonista sempre magra, dentro-dos-padrões, simplesmente por existir. O que já seria importante, ainda que a trama não tivesse mais nada a oferecer.

Além disso, o enredo não se resume à “briga” da Will com os concursos de beleza, nem gira em torno da sua “grande chance” de vencer uma dessas competições.

Sororidade entre personagens femininas

Muitas obras que questionam os padrões de gênero, especialmente padrões de beleza e comportamento impostos às mulheres, cometem um erro. Na tentativa de desafiar o patriarcado, elas acabam vilanizando outras mulheres. As personagens femininas que correspondem às expectativas sociais são frequentemente caracterizadas não só como fúteis, mas como cruéis, insensíveis ou “burras”. Em vários casos, a história parece nos dizer que essas personagens, essas mulheres, não merecem um final feliz. Dumplin’ faz o oposto: em nenhum momento transforma mulheres em vilãs.

Rosie, interpretada pela Jennifer Aniston, sem dúvida se preocupa demais com a sua aparência. Apesar de ser tudo aquilo que o estereótipo de “beleza” prega, insiste em fazer dieta para caber num vestido que ela usava aos dezesseis anos. Só que a narrativa mostra Rosie como um ser humano, e não uma caricatura machista de mulher fútil e extremamente vaidosa.

A preocupação excessiva com a aparência vem não só das expectativas que a sociedade deposita nela, como mulher e como antiga miss da cidade, mas da sua profissão. Rosie transformou o título de “rainha da beleza” em uma carreira: hoje, adulta, ela organiza os concursos, oferece aulas preparatórias às meninas, trabalha como costureira pra atender às necessidades das participantes. Rosie é uma mulher batalhadora que se desdobra em mais de uma função para criar a filha. Rosie não é uma mãe abusiva, e em momento nenhum ataca a auto-estima da Will intencionalmente, ou critica o seu peso. Ela ama o trabalho e ama a filha. A narrativa não cria uma oposição maniqueísta entre uma mãe obcecada com seu peso, superficial, cruel e uma filha gorda, incompreendida, infeliz. E, justamente por isso, propõe uma discussão muito interessante: esse universo dos concursos de beleza, que para Rosie um ganha-pão, coloca uma pressão imensa sobre garotas como Will – para que elas odeiem o próprio corpo, para que elas entrem em dietas mirabolantes, para que elas sonhem com o “corpo perfeito”. Mesmo que essa não seja a intenção de Rosie – e não é – o ideal que ela promove acaba se tornando nocivo para muitas garotas, inclusive a sua própria filha.

Essa interpretação ainda coloca Will em um dilema: como ela poderia odiar a sua mãe, se Rosie não critica sua aparência? Se a mãe a trata com respeito, não julga e não exige que Will emagreça, será que ela pode culpar a Rosie pelos sentimentos nem sempre positivos em relação ao próprio corpo? Não existe uma resposta fácil para essas duas perguntas, mas é um ponto muito válido para a gente começar a questionar a indústria da beleza e os padrões que ela impõe. Se por um lado Rosie sabe que esse ambiente dos concursos de beleza faz com que algumas meninas se sintam inadequadas, por outro, a Willowdean também aprende a reconhecer que esse é o trabalho da mãe. É algo que a gente percebe nas nuances do filme.

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Willowdean com a mãe, Rosie Dickson, eterna “Miss” (Fonte)

Por exemplo, Rosie não expressa nada além de admiração ao ver a filha desfilando com o traje de banho. Na verdade, depois que Will decide participar do concurso de beleza, o único momento que Rosie fica desapontada é quando a filha aparece para o ensaio do show de talentos completamente despreparada. Enquanto as outras garotas tinham se dedicado à sua performance (mesmo a que faz um protesto feminista), Willowdean não preparou nada e faz a sua apresentação de qualquer jeito, decepcionando a mãe — que esperava dedicação por parte de todas as participantes. Até a garota que poderia ser vista como “rival” da Will não é tratada como uma caricatura, nem vilanizada. O filme tem uma trama paralela de romance, onde Will gosta de um garoto, mas já existe outra menina – Bekah, interpretada por Dove Cameron – interessada nele. Bekah não só é uma das concorrentes ao título de “miss”, como a favorita para levar a coroa. Will fica insegura com a presença dela, mas a trama não usa isso como desculpa para jogar uma delas contra a outra. Dumplin’ consegue se manter neutro na situação (e evita aquela ideia de que mulheres se odeiam, ou estão sempre competindo) através de uma jogada muito inteligente no enredo: o filme não foca muito nessa personagem da Bekah. Ela é mostrada como uma garota educada, simpática, que está focada no concurso – e nunca uma “barbie” vaidosa que não se importa com nada além da aparência.

Quando Will se inscreve no concurso, Millie (Maddie Baillio) que também é gorda, faz o mesmo. No início, Will deixa claro que aquilo é uma forma de protesto, e ela não tem a intenção de estimular outras garotas como ela a se inscreverem, nem de vencer essa competição. Porém, Will e Ellen logo percebem que o ativismo delas, a iniciativa de se rebelar contra o concurso e participar apenas como ato de desobediência às normas, não tem o mesmo significado para Millie — e não há nada de errado nisso. As duas relutam, mas quando entendem porque o concurso é importante pra Millie, passam a torcer por uma vitória dela. Afinal, existe mais de uma maneira de desafiar os padrões, né? Como eu disse, o fato de uma personagem como a Millie existir nessa história, ser levada a sério como uma concorrente e ter o apoio dos outros personagens, já é a subversão de um clichê. Tanto quanto a existência de Will ou Hannah.

Acima de tudo, eu senti que Dumplin’ não condena as suas personagens feministas por existirem como podem em uma sociedade machista e obcecada por padrões de beleza. O filme critica o padrão, irreal e inatingível até para a Jennifer Aniston, não as mulheres. E isso é tão, tão importante!

Personagens queer na história

Eu citei a Hannah (Bex Taylor-Klaus) ali em cima, e isso me traz ao próximo aspecto que eu quero discutir: o filme não condena personagens queer. Nós já falamos sobre queer coding aqui no Estanteante, então vocês sabem porque a Hannah pode ser identificada como queer (lésbica, bi ou interessada em garotas). Dumplin’ nunca é conclusivo sobre isso, embora as interações dela com a Millie sejam adoráveis e deem bastante margem para essa interpretação. O jeito que a Hannah olha pra Millie, a relação carinhosa entre elas, como elas estão pertinho no final… É, eu sei que isso tudo pode ser apenas sinal de amizade (a mesma amizade que Will e Ellen tem, por exemplo), mas eu me vi do lado de cá da tela achando as duas a coisa mais fofa do mundo. Sabe como o Deadpool reage à Negasonic e a Yukio? Pois eu estava desse jeito vendo a Hannah e a Millie.

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Millie, Hannah, Will e Ellen durante um ensaio do concurso (Fonte)

Agora, um ponto crucial: a Hannah não precisa ser lésbica, ou gostar de meninas, para ser uma personagem muito legal. Ela é feminista com orgulho, ela veio para chutar as fuças do patriarcado, ela critica os estereótipos de gênero e a heteronormatividade, ela não se veste de um jeito considerado tipicamente feminino. Não significa que ela seja LGBT, tem muitas garotas e mulheres heterossexuais que são tudo isso. E se ela for uma garota hétero, ela ainda é um mulherão da porra – e uma excelente personagem. De qualquer jeito a gente sai ganhando! Só que, como eu já disse, as características dela fazem com que a Hannah seja vista como queer. E os personagens que são vistos como queer podem disseminar estereótipos homofóbicos mesmo quando eles não são LGBT. Um exemplo perfeito disso é a Janis Ian de Meninas Malvadas. No filme, Regina George “acusa” Janis de ser lésbica e ter perseguido ela quando as duas eram mais novas. Além de fazer parecer que ser lésbica é algo ruim, Meninas Malvadas ainda reforça esse clichê horrível e falso da “lésbica predatória” que ataca meninas heterossexuais.

Dumplin’ poderia ter cometido o mesmo erro de tantas formas diferentes! Poderia ter insinuado que a Hannah só quis participar do concurso para ver as outras meninas nos bastidores, ou ter feito o que Meninas Malvadas fez com a Janis: deixar claro que não, ela não gosta de garotas, que absurdo! – e enfiar a personagem numa relação hétero no último minuto do segundo tempo só para afastar qualquer suspeita de que ela fosse gay. Ao invés disso, Dumplin’ mostra Hannah a com seu grupo de amigas – sem a menor insinuação, nem mesmo como uma “piada”, que ela represente qualquer “ameaça” para as outras meninas. Ela participa dos ensaios, ela experimenta figurinos com as amigas e não é, em momento algum, excluída das atividades.

Vocês tem noção do quanto isso é fundamental para as garotas dessa idade – e até mais novas – que vão assistir o filme? Existem tantos filmes que ficam martelando sem parar na cabeça dessas meninas que gostar de garotas é errado. Ou que “tudo bem você não ser feminina, desde que no fim do dia você goste de meninos”. Essas garotas aprendem que gostar de meninas é errado antes mesmo delas saberem se gostam! E isso é algo tão nocivo para a formação da identidade. Não estou nem falando sobre a sexualidade ainda, mas sobre a auto-estima, sobre o amor próprio e a confiança dessas meninas. Ao não expor uma possível homossexualidade da Hannah como algo ruim, ou como alvo de piadas, Dumplin’ não ensina para essas garotas que ser lésbica é errado. Se uma dessas meninas ver a relação entre a Hannah e a Millie como eu vi – e como muita gente via a personagem da Janis e a relação dela com a Regina – a narrativa jamais condena essa interpretação. Isso é maravilhoso. Pensar que uma menina que se vê na Hannah, ou na Millie, não vai ter que lidar com esse julgamento cruel do próprio filme é maravilhoso. E ao mostrar uma relação afetuosa entre a Hannah e suas amigas, a produção passa uma mensagem muito válida: amigas podem ser carinhosas umas com as outras, e isso não tem nada a ver com sexualidade. Garotas podem se sentir confortáveis para abraçar, e para ir à piscina, e para trocar de roupa na frente das suas amigas – e, de novo, isso não tem nada a ver com sexualidade. É uma ideia bem diferente da que Meninas Malvadas transmite, nesse aspecto.

Se eu gostaria que Dumplin’ tivesse tornado oficial que a Hannah gosta de meninas? É claro! No meu mundo ideal, ela e a Millie começaram a namorar depois do concurso. Só que, nesse caso, o fato da narrativa omitir seu parecer definitivo sobre a sexualidade da personagem não é algo prejudicial. E o próprio filme já faz questão de reforçar isso, com a inclusão de mais personages LGBT.

Embora a sexualidade da Hannah não seja estabelecida, Will e as amigas acabam indo a um bar LGBT (ou talvez “alternativo”), onde acontecem performances de drag queen. Lá elas conhecem Lee (Harold Perrineau) e Candee Disch (Joshua Allan Eads, ou a Ginger Minj), que são queer, e se apresentam no local. Inclusive, a gente nunca vê a Candee “fora” da sua persona feminina. Ou seja, Dumplin’ é “LGBT friendly” – ainda que o filme não tenha personagens declaradamente LGBT como protagonistas, eles aparecem, e são tratados com respeito. Não sei se todo mundo pegou isso, mas é insinuado também que a tia da Willowdean podia ser lésbica. Irmã da sua mãe, tia Lucy (Hilliary Begley) já faleceu, mas sempre foi a presença mais importante na vida da Will. Como Rosie estava sempre ocupada com a organização dos concursos, foi Lucy quem ajudou a criar Will, e a ensinou muitas coisas valiosas – como o amor por Dolly Parton. Era era uma modelo para a sobrinha e pra Ellen, melhor amiga de Will. Também era frequentadora assídua do bar onde Lee e Candee se apresentam, muito amada pelos dois. Bem, é possível que a tia Lucy seja uma mulher heterossexual que frequentava o bar, mas a essa altura vocês já sabem reconhecer um queer coding de longe, né?

harold perrineau

Harold Perrineau como Lee, em Dumplin’ (Fonte)

Resumindo, eu adoraria ver mais representatividade explícita no filme, mas reconheço que eles conseguiram apresentar personagens LGBT sem fazer um julgamento sobre a identidade deles, e sem insistir em clichês preconceituosos. Considerando o tipo de material que a gente costuma assistir por aí… Cara, isso é muito.

O que significa Dumplin’

A Netflix escolheu manter o título Dumplin’, que no original se refere ao apelido que a  mãe dá para Will. Em português, tanto dublado quanto na legenda, Rosie chama Will de fofinha. E para quem ficou curioso sobre esse nome, o dumpling é um bolinho, em geral salgado. Os mais famosos são os dumplings chineses, que aqui a gente conhece mais por guioza — mas é claro que a mãe da Willowdean não estava chamando ela de “prato da culinária chinesa”. O termo é um apelido carinhoso nos EUA, bem “coisa de mãe”, e não muito diferente da gente usar docinho ou fofinha.

Embora essa não seja a intenção da personagem da Jennifer Aniston (fica implícito que ela chama Will de dumplin’, ou fofinha, desde sempre), Will não gosta do apelido porque isso parece um eufemismo para o seu peso. Mesmo que no final a Will desencane e não veja mais problema no nome, o momento em que ela confronta a mãe sobre como esse apelido a incomoda é importante. Pode parecer besteira para quem está de fora, mas é fundamental você respeitar quando alguém diz que não gosta de algum nome, termo ou apelido. Principalmente quando diz respeito à aparência física. Não importa se a sua intenção não era ofender, ou se você falou de maneira carinhosa, ou se era apenas uma “brincadeira” entre amigos. Se a pessoa não gosta, não use!


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